Para desenvolvimento
deste texto, usaremos argumentos bíblicos para responder a seguinte pergunta:
qual o respaldo bíblico para se invocar que demônios se manifestem para serem
expulsos? Vamos à resposta.
Em
primeiro lugar,
a expulsão de demônio conhecida no mundo religioso cristão como exorcismo,
palavra grega que significa: fazer jurar, esconjurar, perguntar com
insistência; não é de uso exclusivo do cristianismo. Desde tempos remotos,
outras religiões usam esse pressuposto para afastar espíritos maus, haja vista
o caso dos filhos de Ceva, que eram exorcistas profissionais e acrescentaram às
suas fórmulas mágicas o nome Sacrossanto de Jesus, o que não deu certo visto
terem sido envergonhados publicamente.
Veja
também:
Vejamos o que está
escrito em Atos dos Apóstolos, capítulo 19, versículos 13 ao 17. “E alguns dos
exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os
que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo
prega. Os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos
sacerdotes. Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus e
bem sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o
espírito maligno e assenhoreando-se de dois, pôde mais do que eles; de tal
maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. E foi isto notório a todos os
que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos
eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido”.
Como a autoridade dos
tais exorcistas é espúria, cremos que a aparente saída do demônio é uma
combinação que o demônio que atua no falso exorcista faz com que o que está no
possesso e tudo fica em casa mesmo, e o reino das trevas continua prevalecendo
em ambos.
Em
segundo lugar, observamos
que a autoridade de expulsar demônios foi delegada a todos os crentes que
estejam cheios do Espírito Santo e em estado de santidade: “E disse-lhes: Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado
será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que
crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão nas
serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e
imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão” (Mc 16.17 - grifo meu). Só quando a frieza
espiritual tomou conta da Igreja no decorrer dos séculos, que se criou a figura
do “sacerdote exorcista”, que só pode fazer exorcismos com autorização do
ordinário da região.
Em
terceiro lugar, no
Novo Testamento, Jesus e os apóstolos expulsaram vários espíritos maus sem
perguntar nome de nenhum, pois isto não traria vantagem alguma para o
exorcismo. Quem crê que sabendo o nome do demônio facilitará a expulsão dos
mesmos, pensa como os pagãos que acreditam que, sabendo o nome possuirá poder
sobre os espíritos. A única ocasião em que Jesus perguntou o nome foi no caso
do gadareno.
“E navegaram para a
terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia. E, quando desceu para
terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo,
estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa,
mas nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e
dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
Peço-te que não me atormentes. Porque tinha ordenado ao espírito imundo que
saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no
preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo
demônio para os desertos. E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E
ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios” (Lucas 8.26-30).
Uma das intenções do
Senhor foi de mostrar aos Seus discípulos daqueles dias, e a nós de hoje,
quantos demônios podem possuir uma pessoa e nada mais.
Se perguntar os nomes
dos demônios fosse um modelo a ser seguido, um padrão, Jesus também teria feito
“interrogatório” aos espíritos malignos outras vezes que libertou pessoas
possessas. Não vemos, por exemplo, ele perguntando os nomes dos demônios
quando, em Cafarnaum, segundo registra o Evangelista Marcos, capítulo 1,
versículos 21 a 28, “um homem com um espírito imundo exclamou, dizendo: Ah! Que
temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de
Deus”. Ao invés de interrogá-lo, o Mestre o repreendeu dizendo: “Cala-te e sai
dele”. Assim registra o Evangelista Lucas, em texto sinótico: “E o demônio,
lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal” (Lc 4.35).
Na tarde daquele dia,
“quando já estava se pondo o sol”, após Jesus libertar o homem possesso e
passar na casa de Pedro e curar a sogra deste, “trouxeram-lhe todos os que se
achavam enfermos e os endemoninhados. E toda a cidade se ajuntou à porta. E
curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades e expulsou muitos
demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam (Mc 1.32-34).
É importante destacar
aqui a expressão “não deixava falar os demônios”, como argumento de que ouvir
ou interrogar espíritos malignos não fazia parte dos “exorcismos” realizados
pelo Mestre. O próprio Evangelista Lucas, que registra o episódio envolvendo o
gadareno, assim confirma o que disse Marcos, que também registra o mesmo
episódio (Mc 5.1-20). “E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo:
Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar,
pois sabiam que ele era o Cristo” (Lc 4.41).
Em
quarto lugar,
concernente aos nomes que os próprios espíritos se identificam quando se
manifestam, afirmando ser um dos deuses ou deusas das religiões pagãs que
operam no nosso Brasil é mais uma ilusão do “pai da mentira” pois esses nomes
são invenções regionais e em outros países, como a cultura é outra, recebem
outros nomes. Nas Sagradas Escrituras, nós nunca encontramos os servos de Deus
invocando demônios nos cultos cristãos. Na Sagrada Liturgia proposta para a
celebração do culto divino em 1 Coríntios 14.26-33 não aparece esse tipo de
prática. Nos cultos cristãos, expulsar
demônios é uma
eventualidade e não uma regra. Assim sendo, essa prática espúria dos dias
atuais de em pleno culto invocar espíritos maus pelos seus pseudos nomes, não
tem base bíblica. Os adeptos desses espetáculos, o fazem por não terem a
verdadeira mensagem do Evangelho e necessitam de encenações que atraiam um
público ávido pelo excepcional.
Mas o que importa é o
nome de Jesus, como lemos em Filipenses 2.5-10: “De sorte que haja em vós o
mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus,
não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem,
humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que
também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na
terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai”.
Artigo: José Orisvaldo
Nunes | Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, maio de 2019| Reverberação: www.evjair.blogspot.com