Há diferença entre Exegese Eisegese
Na exegese a Bíblia
interpreta-se a si mesma. Na eisegese, o leitor torce o sentido do texto. A
exegese é a mãe da ortodoxia doutrinária. A eisegese, porém, é a matriz de
todas as heresias. Ela gera o misticismo, e este acaba por dar à luz aos erros
e aleijões doutrinários.
1. O que é eisegese?
Eisegese é o antônimo
da exegese. Consiste em atribuir em um texto o ensino ou a doutrina que alguém
deseja que esteja ali, mas que na verdade não faz parte do mesmo. E a
interpretação de um texto atribuindo-lhe ideias do próprio leitor.
Nas seitas onde a
eisegese é praticada, a revelação sempre procede do líder do grupo. “Deus”
sempre fala por meio dele. Todas as ideias que esse líder tem são tidas como
“inspiração de Deus”, e nunca são submetidas a uma análise. Quando a suposta
revelação chega ao conhecimento da igreja, já vem como uma determinação que
todos devem aceitar, tomando assim toda a congregação submissa a um só homem ou
mulher, como vemos atualmente em várias igrejas.
Esquecem-se esses
líderes de seitas que “Deus mesmo deu uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.
Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; até que cheguemos todos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por
todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam
fraudulosamente”, Ef 4.11-14.
Uma igreja que é
conduzida exclusivamente por uma só pessoa, além de estar fora dos padrões
estabelecidos por Deus, corre o sério risco de vir a se tornar uma seita.
2. Exemplos de eisegese
a) Ganância -
“Trazei
todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e
depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos
abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não
haja lugar suficiente para a recolherdes”, Ml 3.10.
Certo pregador leu esse
texto e iniciou sua mensagem da seguinte forma: “Pessoal, raciocine junto
comigo: Deus diz que se você der o dízimo, ou seja, 10% de toda a sua renda,
Ele abrirá as janelas do céu e derramará bênçãos sem medidas sobre a sua vida.
Isso quer dizer então que, se você der 20%, ele derramará duas vezes mais essas
bênçãos. E tem mais! Se você dúvida disso, o próprio Deus manda você colocar
ele à prova. Ou Ele é Deus ou não é. Você hoje vai colocar Deus na parede,
amém?”
Ao afirmar através de
um argumento astuto que Deus irá abençoar duas vezes mais, aquele pregador está
se esquecendo do que disse o apóstolo Paulo: “E eu, irmãos, apliquei estas
coisas, por semelhança, a mim e a Apoio, por amor de vós; para que em nós
aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de
um contra outro”, 1 Co 4.6.
Zelo infundado - “Mas
agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais
outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”, G1 4.8-11.
Alguns citam o texto
acima para mostrar que Deus proíbe festas de aniversários.
Mas, façamos aquelas
perguntas básicas da exegese:
a) Quem
escreveu? Paulo
e seus companheiros (G1 1.1-2).
b) A quem
se dirigia o escritor? Às
igrejas da Galácia (G11.2), uma região da Ásia.
c) Quando?
Provavelmente
entre os anos 55-60dC, tempo em que alguns judeus tentavam fazer com que os
gálatas guardassem a Lei de Moisés (G1 1.6-7).
c) Como
esses homens queriam transtornar o Evangelho, pregado por Paulo? Fazendo com que os
gálatas, que eram gentios, viessem a praticar a lei mosaica, que era de
ordenanças para os judeus (G1 3.1-3; 4.8-11).
d) Que
dias, meses e tempos e anos eram esses que os gálatas foram induzidos a
guardar?
Paulo os menciona no
contexto paralelo de Colossenses 2.16-17: “Portanto, ninguém vos julgue pelo
comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa (festas anuais) ou da lua
nova (festas mensais) ou dos sábados (festas semanais) que são sombras das
coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. Se já temos o corpo, por que
andaríamos ainda seguindo as sombras?
Maldições hereditárias - É
mais uma invencionice decorrente da eisegese. “Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na
terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto;
porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais
nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”, Ex
20.4-5.
Pseudo-exegetas
usam esse
texto como terrorismo espiritual dizendo que os crentes precisam quebrar as
maldições que herdaram de seus antepassados. É triste ver que muitos crentes
imaturos acreditam que o “vaso iluminado” descobriu ser necessário fazer uma
coisa que nem Jesus nem os apóstolos ensinaram, e nem os milhares de teólogos e
exegetas cristãos citaram até o século 20. Esses falsos exegetas ignoram
deliberadamente as regras sucintas para uma correta exegese. Isolam o texto do
contexto para fazer a Bíblia dizer aquilo que querem, ignoram a sintaxe do
período e desprezam uma das mais belas doutrinas do cristianismo: O novo
nascimento.
Vejamos cada um desses
tropeços que os levaram a pregar falsidades e a ensinar heresias:
a) Contexto:
A
continuação do texto citado diz claramente: “...e faço misericórdia até mil
gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”, Ex 20.6.
Portanto, se alguém ama e procura guardar os mandamentos do Senhor, gozará da
sua misericórdia “até mil gerações”, e não maldições!
b) Sintaxe:
Astuciosamente
o pregador de maldições não cita o final do período, que é uma oração
subordinada à primeira, por uma conjunção aditiva (e): “...e faço
misericórdia...”
c) Doutrina:
Ninguém
paga pelos pecados cometidos por outros! Os filhos não levam a culpa dos pais,
embora possam sofrer os efeitos econômicos dos seus desacertos ou alguma sequela
física decorrentes de doenças como a sífilis ou de outros fatores transmitidos
pelos genes nos cromossomos. O único homem que pagou pelos pecados dos outros
foi Jesus (Is 53.4-5). Há vários textos que salientam esse ensino (Ex 32.33; Jó
19.4; Ez 18.20; Dt 24.16 e Jr 31.29-30).
d) Novo nascimento:
A pessoa
que está em Cristo biologicamente continua filho de seus pais terrestres,
porém, espiritual e teologicamente, passa a ser filho de Deus, nada precisando
fazer pelo seu passado nem pelo passado de qualquer parente seu. Cristo já fez
tudo (Rm 8.1,17; 2Co 5.17; Jo 1.12-13; G1 3.29 e Ef 3.6).
Herdeiro de maldição é
quem torce a Palavra de Deus “supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Tm
6.5).
Referência:
Jornal Mensageiro da Paz, maio de 2005 | Artigo: Pr. Edmar Cunha de Barcellos | Acervo: Ev. Jair Alves