Para analisar exegeticamente as passagens que mencionam o querubim expulso dos céus em Ezequiel e Isaías, é necessário observar os contextos históricos, linguísticos e teológicos dos textos.
Os capítulos mais frequentemente
relacionados a essa questão são Ezequiel 28 e Isaías 14. Vamos analisá-los:
1.
Ezequiel 28:11-19 – A Lamentação contra o Rei de Tiro
Contexto Histórico e Literário
O
capítulo 28 é um oráculo contra o rei de Tiro, uma cidade-estado fenícia
conhecida por sua riqueza, comércio e arrogância. A linguagem figurada usada
aqui ultrapassa o rei humano e parece apontar para uma figura celestial
(possivelmente Satanás), que foi exaltada e posteriormente expulsa por causa de
seu orgulho.
Texto e Exegese
Versículo
12:
"Tu eras o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura."
Indica a perfeição do querubim antes da queda, sugerindo um estado celestial.
Versículo
13:
"Estavas no Éden, jardim de Deus; toda pedra preciosa era tua
cobertura."
Refere-se a um ser que estava no Éden, destacando uma posição especial na criação de Deus. As pedras preciosas simbolizam glória e autoridade divinas.
Versículo
14:
"Tu eras o querubim ungido que cobre; e te estabeleci."
Mostra que este ser foi criado como um querubim protetor, uma posição exaltada na presença de Deus.
Versículo
15:
"Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que
se achou iniquidade em ti."
Expõe a origem da queda: a iniquidade (pecado) encontrada nele.
Versículo 17: "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor."
O orgulho é identificado como a causa da queda.
Aplicação Exegética
Embora o texto seja uma lamentação contra o rei de Tiro, a linguagem parece transcender a figura humana, aludindo à queda de um ser celestial (geralmente identificado como Satanás). O pecado foi o orgulho e a rebelião contra Deus.
2. Isaías 14:12-15 – A Queda da "Estrela da Manhã"
Contexto Histórico e Literário
Este
texto faz parte de um oráculo contra o rei da Babilônia. Assim como em
Ezequiel, a linguagem figurada ultrapassa o governante humano e aponta para uma
figura celestial. "Estrela da manhã" (ou "Lúcifer"
na Vulgata) era um título usado para descrever um ser exaltado que desejava se
igualar a Deus.
Texto e Exegese
Versículo
12:
"Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!"
Refere-se à queda de um ser glorioso do céu. No contexto imediato, simboliza o rei da Babilônia, mas pode ser aplicado a um ser celestial.
Versículo
13:
"Subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono."
Mostra o desejo de usurpar a posição de Deus, um ato de extrema arrogância.
Versículo
14:
"Serei semelhante ao Altíssimo."
Expõe a raiz da rebelião: a aspiração de igualdade com Deus.
Versículo
15:
"E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo."
Descreve
o juízo final sobre esse ser, que é lançado nas profundezas do abismo (Sheol).
Aplicação Exegética
Assim
como em Ezequiel, a linguagem em Isaías transcende a figura humana do rei da
Babilônia e aponta para um ser celestial que foi expulso por causa de sua
arrogância e desejo de ser como Deus.
3.
Comparação entre Ezequiel 28 e Isaías 14
Ambos
os textos usam figuras históricas (rei de Tiro e rei da Babilônia) como
símbolos de um ser celestial (geralmente identificado como Satanás). O pecado
em ambos os casos é o orgulho e a rebelião contra Deus.
As consequências são semelhantes: queda do céu e condenação eterna.
Conclusão
Esses
textos sugerem que Satanás era um ser exaltado na criação de Deus, mas caiu por
causa do orgulho e da rebelião. A linguagem simbólica conecta a rebelião
angelical ao comportamento humano arrogante, demonstrando que o pecado do
orgulho continua sendo uma ofensa contra a santidade de Deus.
Blog: Ev. Jair Alves