A Bíblia Promete Cura Sempre?


Faz parte da teologia pentecostal clássica a doutrina bíblica que diz que Jesus Cristo morreu tanto por nossos pecados como por nossas enfermidades, conforme narra Isaías 53.3-4. Observamos essa crença sendo corroborada no Novo Testamento quando vemos Mateus citando essa passagem de Isaías e associando a mesma à cura física (Mt 8.16-17). A propósito, o pastor Geremias do Couto destaca que “em Mateus 8.17, a Bíblia afirma que as curas efetuadas pelo Senhor Jesus durante o seu ministério são uma confirmação da profecia de Isaías 53.4-5. A cura divina é resultado da obra expiatória de Cristo no Calvário. Tal fato indica os plenos efeitos da redenção sobre o nosso espírito, alma e corpo” (Lições Bíblicas, CPAD). Dessa forma, fica bem claro que a cura física, a exemplo da Salvação, faz parte do sacrifício vicário de Cristo.
Vamos responder à nossa pergunta a partir de uma análise das principais objeções que são feitas à ideia de que a cura divina faça parte da Expiação de Cristo.

Vejamos as principais delas:

1)      A passagem de Mateus 8.16-17 aconteceu em um contexto quando Cristo ainda se encontrava vivo, portanto, não pode se referir à Expiação;

2)      Se a cura faz parte da expiação de Cristo, então todos devem gozar perfeita saúde;

3) A palavra enfermidades em Isaías 53 significa doenças espirituais;

4)      Mateus 8.16-17 destaca que Jesus expulsou os espíritos, e se esse fato for associado à Expiação de Isaias 53, então isso significaria que Jesus na cruz também teria assumido a natureza do Diabo.

5)      Na cruz, Jesus levou nossos pecados, portanto o pecado não tem domínio sobre nós. Por outro lado, se Jesus levou nossas doenças, juntamente com os nossos pecados, é claro que elas não teriam domínios sobre nós.

Na primeira objeção, deve-se observar que as curas referidas por Mateus são anteriores ao sacrifício consumado no Calvário, mas não a redação do seu texto. Esta ocorreu muitos anos depois. Segundo alguns intérpretes, Mateus redigiu seu texto entre os anos 66 e 70dC, portanto muito tempo depois do sacrifício da cruz do Calvário ter acontecido. Mateus sabia, portanto, o que estava escrevendo quando citou Isaías e associou as curas ocorridas no ministério de Jesus à Expiação que o profeta menciona. Por outro lado, Frank Stagg, renomado intérprete norte-americano, ao comentar a passagem de Mateus, diz: “Apesar de a ênfase não estar no fato de que Ele (Jesus) levou os pecados dos homens, mas nas curas de enfermidades deles, esta passagem pode nos lembrar que, embora a obra redentora de Cristo tenha o seu centro na cruz, Ele já era Redentor da doença e do pecado durante o seu ministério terreno”.

Quanto à segunda objeção, Keith Bailey observa que: “a crença no fato de que a cura se acha ligada à Expiação não implica necessariamente que todos os crentes devam gozar de perfeita saúde, assim como a crença na Salvação através da Expiação não implica que todos os que creem sempre manifestarão total santidade”.

A respeito da terceira objeção, o Dicionário de Teologia do Antigo Testamento, ao comentar sobre o vocábulo holi (enfermidades), diz: “A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz o plural holi por ‘sofrimentos’ em Isaías 53.4, embora a tradução ‘enfermidades’ seja mais adequada, quer físicas, quer espirituais”. Portanto, Jesus levou tanto as nossas enfermidades espirituais como físicas.

A quarta objeção põe no mesmo plano categorias lógicas diferentes. E como querer entender o homem a partir do DNA do macaco. Ora, o pecado com suas consequências, isto é, enfermidades e doenças, fazem parte de nossa natureza adâmica. O mesmo não pode ser dito sobre o Diabo ou demônios. Estes não fazem parte de nossa natureza pecaminosa. Na cruz do Calvário, Jesus levou nossos pecados e enfermidades e conquistou para nós a vitória total sobre os demônios (Hb 2.14). Tudo isso sem se tornar pecador e sem tomar sobre si a natureza do Diabo.
A quinta objeção confunde “domínio do pecado” com “impecabilidade”. Embora o pecado não tenha mais domínio sobre nós, nenhum cristão pode dizer que não pode mais pecar. Embora a cura divina seja parte da Expiação de Cristo, ninguém pode dizer que não vai mais ficar doente. Assim como o pecado é uma realidade bem presente, da mesma forma as suas consequências.


Artigo: Pr. José Gonçalves | Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, Janeiro de 2008 | Acervo Pessoal: Ev. Jair Alves

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