O que Significa o Arrependimento de Deus

O termo arrependimento é pregado na Bíblia em relação ao homem e a Deus. Quando empregado em relação ao homem, o termo não apresenta quaisquer dificuldades, mas quando aplicado em relação ã Deus, apresenta dificuldades de compreensão que têm motivado muita discussão, dúvidas e confusão.

1. O termo aplicado ao homem

Neste caso, o termo tem a ver com a mudança do homem e o seu retorno a Deus por ter pecado contra Ele, por ter procedido erradamente, transgredindo a sua lei e a sua vontade. Segundo a Palavra de Deus, o arrependimento do homem implica não somente o fato de ele cair em si, arrepender-se e sentir tristeza de coração por ter errado, mas também o seu retorno a Deus.

Uma ilustração clara disso está no que aconteceu ao transgressor denominado Filho Pródigo, na parábola do Evangelho de Lucas (15): “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”. E foi! Isso é arrependimento humano motivado por Deus.

Arrepender-se, em resumo, é o homem andar em sentido contrário àquele em que ele vinha.

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2. O termo aplicado a Deus

Neste caso, o emprego do termo é um antropopatismo. Significa atribuir à divindade sentimentos e modos de agir próprios do ser humano, para que desta maneira Deus se faça entender ao homem. Isto é, Deus condescende em usar o modo humano de falar para Ele fazer-se compreender. É uma figura de linguagem comum nas Escrituras, como muitas outras. A Bíblia é um livro divino, porém escrito em linguagem humana.

Se o leitor não considerar o contexto bíblico geral sobre o caráter de Deus e os princípios elementares da hermenêutica sagrada imanentes no próprio texto bíblico, parece que Deus arrepende-se de modo semelhante ao homem, mas bem sabemos que isto apenas parece.

O sentido bíblico de Deus arrepender-se” é Ele:
1) sentir pesar ante o pecaminoso e rebelde proceder do homem e
2) deixar de fazer o que afirmou que faria ao homem (abençoá-lo, sustar a bênção prometida ou castigá-lo), por este mudar o seu proceder, voltando-se para Deus ou deixando-o.

O que muito ajuda o crente a entender o sentido do arrependimento de Deus é o estudo da natureza geral Dele, segundo o que está revelado na Bíblia.

Temos alguns exemplos, como Joel 2.12-14 e Êxodo 32.7-14. No primeiro caso, Deus arrepender-se-á caso o povo de Israel volte atrás, deixando seus caminhos pecaminosos. No segundo, vemos Deus arrependendo-se no sentido de cancelar o castigo do povo porque um intercessor se interpôs diante Dele pelo povo.

Aqui em Êxodo 32.7-17, primeiro Deus quis destruir o povo, de acordo com a sua perfeita justiça e santidade, pois Ele é primeiramente um Deus santo; e segundo, Deus cancelou o castigo do povo, de acordo com a sua misericórdia e graça, mediante a intercessão de Moisés. Justiça e misericórdia são dois dos atributos da natureza de Deus.

Deus não se arrepende como o homem se arrepende. Ele se arrepende no sentido exposto acima. Já o homem se arrepende porque procede mal, peca, erra, ofendendo e transgredindo a vontade de Deus. O homem se arrepende sentindo tristeza porque procede mal; Deus, nunca! O arrependimento do homem sempre está atrelado a erro, mas o de Deus, jamais!


3. Arrependimento divino - Textos bíblicos que falam do arrependimento divino

Alguns dos textos bíblicos que falam do arrependimento divino são Gênesis 6.6; Números 23.19; 1 Samuel 2.30, 5.11 e 15.29; Salmos 135.14; Jeremias 18.8-10, 15.6 e 26.3,13; Ezequiel 20.21-22; Jonas 3.10, Zacarias 8.14 e Joel 2.13. No texto de Joel 2.13, “mal” refere-se à comoção da natureza, e não ao mal no sentido moral.

Outros exemplos de arrependimento de Deus, apesar de não aparecer o termo arrependimento nessas passagens, são:

1) Deus revogando suas leis - Em Êxodo 13.2,12-15, Deus reservou e parou para si os primogênitos de Israel, porém mais tarde Ele mesmo tomou os levitas em lugar dos primogênitos (Ex 34.19-20; Lv 27.26-27; Nm 3.12-13,41,45; 8.16-18; 18.15-17). A razão desta mudança de procedimento de Deus foi a fidelidade demonstrada por Levi no caso da clamorosa idolatria e orgia carnal de Israel, quando o povo desviou-se e adorou o bezerro de outro (Ex 32.26-29 e Dt 33.9).

2) Deus fazendo concessões sem transigir quanto ao seu caráter santo e perfeito

a) O caso do pão sagrado do Tabernáculo, que só aos sacerdotes era permitido comer (Mt 12.1 - 8 e 1 Sm 21.36). Estranhos que comessem daquele pão morreriam; no entanto, Davi e seus homens comeram e não morreram.

b) O caso do tributo sagrado do Templo (Mt 17.24-27). O Templo era a Casa de Deus, o Senhor de todos. Ora, Jesus, sendo o Filho de Deus, por direito estava isento de pagamento de tributo sobre o Templo; entretanto, para que os circunstantes não se escandalizassem (e também para fechar-lhes a boca), Jesus pagou de boa mente a quantia.

É pena que tantos crentes hoje são tão exigentes com coisas às vezes mínimas, para as quais poderiam abrir mão, mas não abrem, inclusive em questões de seus direitos - que muitas vezes não são direitos mesmo, e sim puro humanismo, em que Deus é deixado totalmente fora do contexto. Os tais devem aprender aqui a lição ensinada por Jesus no caso do tributo.

Portanto, o termo arrependimento é na Bíblia aplicado ao homem e a Deus, mas com sentidos diferentes.
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Estudo: Pr. Antonio Gilberto | J. Mensageiro da Paz, maio de 2005 – Reverberação: Blog Ev. Jair Alves

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